segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Leviatã


Talvez na terra, talvez no futuro ou até mesmo em outra dimensão. Da próxima vez que olhar para o céu noturno tenha certeza de que as estrelas que você está vendo são aquelas que possuem os nomes dos grandes astrônomos que conhecemos

Da próxima vez que olhar para o norte e ver parte daquele grande arco de ferro que se estende por toda o nosso planeta tenha a certeza de que nenhuma das fendas está aberta, pois quando você atravessa para o Lado Norte o mundo gira ao contrário e como um turbilhão de incertezas, você cai em lugar nenhum e nada do seu treinamento pode te preparar para o que há aqui.

Fui categorizado como Poeta da expedição, pois na concepção dos N.C.X, um poeta em um lugar desconhecido seria o melhor narrador para as massas pobres e sem esperanças. Fui designado a escrever a falsa glória desse lugar. Fedido e cheio de mistérios que nem mesmo o mais inteligente de nossos homens pode sequer conceber uma explicação

O mistério mais incomum e aterrorizador que presenciamos levou três de nossos soldados e toda nossa sensação de sanidade. Tudo que relato aqui aconteceu na cabana das miríades da Nova Zelândia, no meio de nossa jornada para desligar o tal Colisor.

Era fim de tarde e a lua já se estendia por todo o arco da praia. Evento natural incomum, pois, em todo nosso trajeto a lua sempre parecia distante e mais pálida do que antes, mas hoje ela aparenta estar mais perto e observando a gente como se fosse uma grande sentinela cósmica.

Fiquei fora da cabana, retribuindo o mal olhado daquela Lua e notando que o mar e as nuvens se agitavam cada vez que as garras da noite se aproximavam. Começou a chover de repente e, com isso, agarrei meus materiais de escrita e de filmagem junto com meu casaco e voltei para a cabana.

Todo o grupo estava num sono profundo e a insônia infelizmente escolheu-me como vítima daquela noite de luar espasmódico. Observando pela janela a chuva e o luar, comecei a notar que o céu começou a mudar de cor e que a própria lua estava diferente: meio amarela salpicada de vermelho; e os céus com suas nuvens carregadas de água e raios refletindo uma espécie de tom carmesim amarelado. Desde que chegamos aqui aconteceram muitas coisas impossíveis e eventos duvidosos, mas esse evento não era aterrorizador e nem insano, esse evento é a prova de que ainda existe natureza e que Gaia ainda cria suas belas obras de artes ao redor do mundo. Esse Todo cósmico e essas cores em conjunto da madrugada com efeito refletido pela luz da lua, os raios e as nuvens junto do mar revolto formando uma espécie de canção ou, até mesmo, um teatro, encheu meus olhos de satisfação e assim percebo minha ingratidão por reclamar da minha vinda a este local. Poucos poetas terão a chance de vislumbrar algo assim e quem sabe esse seja um evento único antes do total desligamento do Colisor.

Esse evento durou, aproximadamente, um total de duas horas, até que algo mudou em seu todo e a canção do mar se tornou um guincho estridente, como se um ritual estivesse ao fim e que toda aquela cena fosse o tapete vermelho para algo que estivesse vindo.

As nuvens foram se dissipando e o guincho do mar ficara mais forte junto com suas ondas enormes se chocando umas com as outras. Notei que a lua ia ficando mais negra e que uma espécie de névoa fina cobria a maior parte da sua miríade.

Ficando cada vez mais assustado com aquela encenação reparei que a lua estava chegando cada vez mais perto e iluminando cada vez mais aquela noite de total insanidade. O mar cada vez mais revolto e ensandecido com a aproximação da lua começou a se abrir e de seu meio algo saiu.

Uma silhueta gigante e escura em contraste com a insanidade lunar que se aproximava ainda mais. A silhueta que saiu do mar ergueu seus braços em reverência à lua e emitiu um guincho ensurdecedor fazendo o mar a sua volta flutuar, e com isso fazendo a silhueta flutuar junto. Aterrorizado com tudo aquilo tentei acordar meus companheiros, mas quando tentei acordá-los percebi que seus olhos sangravam e que estavam em uma espécie de hipnose, mas como poderia apenas eu estar acordado e presenciar aquele horror?

Voltei para a janela e reparei que a silhueta tinha tentáculos saindo de suas costelas e que a lua estava mais perto do que nunca, a ponto de colidir com a Terra. A silhueta de repente se encolheu e, emitindo um gemido ululante, começou a brilhar em harmonia com o luar, tornando tudo cada vez mais caótico e fazendo minha visão ficar mais difícil, pois parecia que a lua se tornara o próprio.

Vendo toda aquela cena comecei a chorar, pois, não entendia mais nada de tudo aquilo. Acreditando que a lua veio pegar de volta um filho um tanto esquecido, um leviatã que não pertencia a esse mar e que graças ao Colisor ela finalmente pôde descer e tê-lo de volta.

Chorando e perdendo minha mente por completo, reparei que a silhueta estava vindo em direção à nossa cabana emitindo um som ainda mais estridente, fazendo minha cabeça girar em delírios e sons ainda mais ensurdecedores, ela vem chegando mais perto mostrando sua aparência mais nítida à medida. Pelo pouco que consegui ver ela não era humana e nem da terra e que seus olhos eram vermelhos. Vendo tudo aquilo sai correndo da cabana, mas antes de chegar ao nosso carro Ela já havia me alcançado.

Agarrou-me pelo pescoço emitindo uma fala que aparentava ser latim, com seus tentáculos ondulando ao redor de seu corpo, fui erguido até ficar cara a cara com aquilo, encarando aqueles olhos vermelhos e cada vez mais sendo puxado para dentro deles. Estava gritando e chorando, percebo que tudo a minha volta ficava chamuscado e enevoado enquanto perdia minha sanidade e era sugado para dentro dos olhos da coisa e, assim, tudo ficou escuro.

Não existia mar algum...


- Escrito por Kevin Ferreira

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