domingo, 24 de junho de 2018

A Casa Ao Lado (parte 1)




Emily havia mudado-se para um dos bairros mais tranquilos da cidade. Quase nada acontecia por ali, era quase um lugar de velhinhos, não que não houvessem alguns jovens também.

Ela era mais uma adolescente, cerca de 15 anos apenas. O que a levara até ali era, de fato, um trágico acontecimento: ela havia perdido os pais. Um acidente de carro.

Desde aquilo, ela não era mais a mesma Emily de antes. Filha única do falecido casal, não costumava conversar. Não socializava. Nem ia a escola. A jovem se isolava cada vez mais do mundo, a cada dia que passava, mais ela se distanciava da família. A casa no qual agora moraria, era de sua tia que tinha filhos gêmeos que preferiam não incomodar a prima recém-chegada, pois sabiam pelo que ela havia passado.

Seis meses se passaram então. E a garota agora só saía do quarto para usar o banheiro, a tia levava-lhe as refeições pois Emily não mais descia para comer. Ela estava preocupada com a sobrinha. Talvez a adolescente fosse, realmente, precisar de acompanhamento psicológico. Ela parecia estar em depressão.

Mas não era bem isso o que acontecia.

Emily havia descoberto um novo hobbie. Espionar o vizinho da casa ao lado pela janela do quarto. Havia algo de errado com ele e com aquela casa, e a jovem, para distrair-se de sua perda, tentava descobrir o que era. Fazia diversas anotações e também montara um quadro onde tentava ligar os fatos que tinha em mãos.

Duas vezes por semana, por exemplo, o vizinho saía de carro e voltava horas depois. Ele parava o carro na frente da casa e transportava sempre dois enormes sacos de ração para cachorro, para dentro da casa. Seria normal.

Mas Emily sabia que ele não tinha animais de estimação. E não parecia pretender ter algum. Mais estranho do que isso ainda, era que uma vez por semana o vizinho levava um grande saco de lixo preto para fora da casa, o saco sempre emanava um cheiro forte de algum produto de limpeza e mais alguma coisa que ela não conseguia discernir. E depois disso fazia um churrasco sozinho.

Em seis meses de observação, Emily ficava cada dia mais intrigada com tudo aquilo.

"O que esse homem faz?", era o que sempre se perguntava, porém, nunca encontrava uma resposta.

Naquela tarde agradável de sexta-feira, sua tia pediu que ela levasse o cachorro para um passeio (em uma tentativa de tirar a sobrinha do quarto). Emily pensara imediatamente no vizinho, passear com o cachorro seria a desculpa perfeita para analisar a casa direito, afinal, ela não tinha uma boa vista para as janelas da frente, apenas para uma de um corredor sempre escuro.

Andando com o cachorro pela calçada, depois de aceitar tudo aquilo, ela sabia que naquele dia o vizinho sairia para voltar com os grandes pacotes de ração apenas às 16:30h. Faltavam cinco minutos para que ele pegasse o carro e saísse e, sentada na calçada fazendo carinho em seu cão, ela esperou.

14h.

O vizinho abriu a porta para pegar o carro e acenou sorridente para a jovem que apenas levantou a mão em resposta. Assim que ele sumiu de sua vista, Emily caminhou vagarosamente com o cão até a frente da casa dele. Ela notou que ele possuía muitas cadeiras. Cadeiras em vários tamanhos e formas. Isso era estranho.

Intrigada. Voltou para cara e foi logo anotar sobre sua descoberta enquanto aguardava a hora em que ele voltava.

(...)

16:30.


O carro velho e enferrujado estacionou em frente à casa ao lado. Com um binóculo que pegara de seu primo, ela se posicionou e observou-o pegar um dos sacos e jogar sobre o ombro direito.

O saco de ração estava disforme. Não parecia nem um pouco haver ração ali dentro. Havia outra coisa.

E ela descobriria de alguma forma.

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