terça-feira, 16 de agosto de 2016

Aquela garota

Desde o início do ano, os alunos da sala 15, no terceiro andar do colégio Hemmsley, convivem com uma garota.
Não é uma garota qualquer.
Aquela garota, sentada no fundo da sala era sombria. Sempre de cabeça baixa, com os cabelos a cobrir-lhe os olhos. Ninguém falava com ela. Ninguém olhava para ela. Ninguém a notava.
Porém, na última turma a estudar naquela sala, houve um garoto que, por ter se transferido no meio do ano, não conhecia as histórias que o Hemmsley trazia em sua bagagem através dos anos. Ele notou a garota.
E notou também que nem os professores davam-lhe a devida atenção. Ele notou que ela não levantava a cabeça e que parecia anotar algo infinito no caderno. Ele notou suas roupas escuras e a carteira suja.
"Por que a destratam?", perguntava-se. Porém, a resposta nunca vinha.
Uma vez, no entanto, ele resolveu que falaria com ela. Afinal, e se ela estivesse a sofrer por conta dos outros alunos? E se ela precisasse de ajuda?
Ele tentou mas ela não ousou levantar os olhos.
Derrotado, o aluno resolveu ir embora pois todos o encaravam. Estava constrangido.
O colégio todo tomou conhecimento de seu feito em apenas algumas horas. Todos cochichavam quando ele passava pelos corredores. Ele sentia-se reprimido por causa disso.
Mas o que poderia haver de tão ruim com aquela garota, que todos insistiam em ficar longe dela?
Semanas passaram-se após aquilo.
E ninguém mais notou a presença dele. Ninguém falava com ele e muito menos o olhava. Por onde ele passava, os outros alunos se afastavam.
O que estava acontecendo?
Mais dias se passaram. Então semanas.
E o aluno nunca mais foi visto novamente.
Mas a garota, continua despercebida. Sozinha. Inalcançável.
Ninguém nunca soube quem era ela ou de onde ela poderia ter vindo. Seus registros escolares não diziam nada.
Nada além de que viera de outra cidade. Cidade esta que deixara de existir tinha décadas.