Talvez na terra, talvez no futuro ou até mesmo em
outra dimensão. Da próxima vez que olhar para o céu noturno tenha certeza de
que as estrelas que você está vendo são aquelas que possuem os nomes dos grandes
astrônomos que conhecemos
Da próxima vez que olhar para o norte e ver parte
daquele grande arco de ferro que se estende por toda o nosso planeta tenha a
certeza de que nenhuma das fendas está aberta, pois quando você atravessa para
o Lado Norte o mundo gira ao contrário e como um turbilhão de incertezas, você
cai em lugar nenhum e nada do seu treinamento pode te preparar para o que há aqui.
Fui categorizado como Poeta da expedição, pois na
concepção dos N.C.X, um poeta em um lugar desconhecido seria o melhor
narrador para as massas pobres e sem esperanças. Fui designado a escrever a
falsa glória desse lugar. Fedido e cheio de mistérios que nem mesmo o mais
inteligente de nossos homens pode sequer conceber uma explicação
O mistério mais incomum e aterrorizador que
presenciamos levou três de nossos soldados e toda nossa sensação de sanidade.
Tudo que relato aqui aconteceu na cabana das miríades da Nova Zelândia, no meio
de nossa jornada para desligar o tal Colisor.
Era fim de tarde e a lua já se estendia por todo o arco da praia. Evento natural incomum, pois, em todo nosso trajeto a lua sempre parecia distante e mais pálida do que antes, mas hoje ela aparenta estar mais perto e observando a gente como se fosse uma grande sentinela cósmica.
Fiquei fora da cabana, retribuindo o mal olhado
daquela Lua e notando que o mar e as nuvens se agitavam cada vez que as garras
da noite se aproximavam. Começou a chover de repente e, com isso, agarrei meus
materiais de escrita e de filmagem junto com meu casaco e voltei para a cabana.
Todo o grupo estava num sono profundo e a insônia
infelizmente escolheu-me como vítima daquela noite de luar espasmódico.
Observando pela janela a chuva e o luar, comecei a notar que o céu começou a
mudar de cor e que a própria lua estava diferente: meio amarela salpicada de vermelho;
e os céus com suas nuvens carregadas de água e raios refletindo uma espécie de
tom carmesim amarelado. Desde que chegamos aqui aconteceram muitas coisas
impossíveis e eventos duvidosos, mas esse evento não era aterrorizador e nem
insano, esse evento é a prova de que ainda existe natureza e que Gaia ainda
cria suas belas obras de artes ao redor do mundo. Esse Todo cósmico e essas
cores em conjunto da madrugada com efeito refletido pela luz da lua, os raios e
as nuvens junto do mar revolto formando uma espécie de canção ou, até mesmo, um
teatro, encheu meus olhos de satisfação e assim percebo minha ingratidão por
reclamar da minha vinda a este local. Poucos poetas terão a chance de
vislumbrar algo assim e quem sabe esse seja um evento único antes do total
desligamento do Colisor.
Esse evento durou, aproximadamente, um total de duas
horas, até que algo mudou em seu todo e a canção do mar se tornou um guincho
estridente, como se um ritual estivesse ao fim e que toda aquela cena fosse o
tapete vermelho para algo que estivesse vindo.
As nuvens foram se dissipando e o guincho do mar
ficara mais forte junto com suas ondas enormes se chocando umas com as outras.
Notei que a lua ia ficando mais negra e que uma espécie de névoa fina cobria a
maior parte da sua miríade.
Ficando cada vez mais assustado com aquela encenação
reparei que a lua estava chegando cada vez mais perto e iluminando cada vez
mais aquela noite de total insanidade. O mar cada vez mais revolto e
ensandecido com a aproximação da lua começou a se abrir e de seu meio algo
saiu.
Uma silhueta gigante e escura em contraste com a
insanidade lunar que se aproximava ainda mais. A silhueta que saiu do mar
ergueu seus braços em reverência à lua e emitiu um guincho ensurdecedor fazendo
o mar a sua volta flutuar, e com isso fazendo a silhueta flutuar junto.
Aterrorizado com tudo aquilo tentei acordar meus companheiros, mas quando
tentei acordá-los percebi que seus olhos sangravam e que estavam em uma espécie
de hipnose, mas como poderia apenas eu estar acordado e presenciar aquele
horror?
Voltei para a janela e reparei que a silhueta tinha
tentáculos saindo de suas costelas e que a lua estava mais perto do que nunca,
a ponto de colidir com a Terra. A silhueta de repente se encolheu e, emitindo
um gemido ululante, começou a brilhar em harmonia com o luar, tornando tudo
cada vez mais caótico e fazendo minha visão ficar mais difícil, pois parecia
que a lua se tornara o próprio.
Vendo toda aquela cena comecei a chorar, pois, não
entendia mais nada de tudo aquilo. Acreditando que a lua veio pegar de volta um
filho um tanto esquecido, um leviatã que não pertencia a esse mar e que graças
ao Colisor ela finalmente pôde descer e tê-lo de volta.
Chorando e perdendo minha mente por completo, reparei
que a silhueta estava vindo em direção à nossa cabana emitindo um som ainda
mais estridente, fazendo minha cabeça girar em delírios e sons ainda mais
ensurdecedores, ela vem chegando mais perto mostrando sua aparência mais nítida
à medida. Pelo pouco que consegui ver ela não era humana e nem da terra e que
seus olhos eram vermelhos. Vendo tudo aquilo sai correndo da cabana, mas antes
de chegar ao nosso carro Ela já havia me alcançado.
Agarrou-me pelo pescoço emitindo uma fala que aparentava
ser latim, com seus tentáculos ondulando ao redor de seu corpo, fui erguido até
ficar cara a cara com aquilo, encarando aqueles olhos vermelhos e cada vez mais
sendo puxado para dentro deles. Estava gritando e chorando, percebo que tudo a
minha volta ficava chamuscado e enevoado enquanto perdia minha sanidade e era sugado
para dentro dos olhos da coisa e, assim, tudo ficou escuro.
Não existia mar algum...
- Escrito por Kevin Ferreira