segunda-feira, 25 de junho de 2018

O lugar de onde eu vim


Tudo aqui parece-me tão peculiar.
Um lugar que possui uma beleza do qual eu nunca fui privilegiado a observar antes. Um lugar onde tudo é tão singelo e tão... efêmero, que passa a ter uma beleza extraordinária, aos meus olhos.
            Tantas coisas dos quais eu gostaria de poder vivenciar, tal como os seres tão simples e de intelecto tão limitado; que sobrevivem deste lugar. E apesar de tudo isso, eles são os verdadeiros sortudos na história, vivendo alheios ao que está sua volta.
            Alheios ao que “vem antes” e ao que vem “depois”. Eles mal conhecem e entendem as coisas como elas realmente são, preocupam-se apenas com que acham que deve receber tamanha atenção. Contas, dinheiro, suas crias. Eles crescem sendo induzidos a se importar apenas com o que seus semelhantes mais antigos impuseram sobre sua sociedade, com seus olhos voltados apenas para um único lugar e os pés sempre no chão. Eles crescem com o único propósito biológico de procriar, dando importância de mais para os ganhos financeiros. Eles não olham para o além. Eles têm medo do que podem encontrar no ao redor. São singelos, e efêmeros.
            Às vezes me pego pensando no que eles fariam ou o que aconteceria com seu psicológico se soubessem sobre o lugar de onde eu vim.
            Um lugar onde o “nada” nunca foi tão, literalmente, assustador.
            Onde a esperança deixa de existir. A maldade não sobrevive, mas que também não existe um bem. Não há luz e nem escuridão. Onde o tempo não existe.
            O lugar do qual me refiro vai contra tudo o que os humanos acreditam. Eles de nada sabem. De nada entendem.
            Nunca houve o tal paraíso e muito menos um inferno. Apenas um vasto espaço ao qual nada se parece. Nenhum som. Nenhum cheiro. Nenhuma sensação.
            Lá, somos apenas nós e nossa consciência. Buscando algo que nunca poderemos encontrar, refletindo sobre tudo o que um dia já pudemos viver. Entendendo a nossa própria existência.
            Há muito, vago por aquele lugar, já estava ao ponto de perder o que ainda me restava da sanidade, até que cruzei o que Os Que Vieram Antes e Depois de Mim tanto buscaram: a fronteira.
            O lugar que separa o Nada do Tudo. De onde tive acesso a tudo que existe e já existiu. O que me salvou de enlouquecer e me tornar uma sombra, fazendo parte daquele lugar repugnante, manchado de loucura.
            Eu estive em todo lugar. Eu estou em todo lugar. Observando tudo o que vem e o que vai. Tudo o que deixou de existir e ainda existirá.
            Vaguei tanto pelo Nada, que minhas noções de tempo, espaço e existência já não são mais a mesma. Tão manchado e perdido que não sei mais o que eu fui. Um humano, um animal, um ser místico. Eu posso ter existido em todo lugar. Posso ter vindo de toda e qualquer realidade e dimensão. Eu posso ter sido tudo o que existe e deixou de existir assim como também posso ser tudo o que foi, é e será.
            Não há um ser supremo e também não sou um ser supremo, pois nada crio ou transformo. Tudo que faço é observar.
            Eu vi tudo o que todo ser humano fez e é. Eu conheço todas as suas mais infinitas versões nas mais infinitas realidades e dimensões.
            Se há uma coisa que posso afirmar é que não existe um real sentido em tudo isso. Não há uma razão, um ser supremo e nem mesmo uma unidade de tempo de verdade.
            E mesmo que no Tudo hajam formas de vidas e existências diferentes, no final o Tudo, ainda assim, é como o Nada.
            E todos nós nos perderemos no vazio e em todo lugar.
            Isso se eu não for toda forma de vida.

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