Tudo aqui parece-me tão
peculiar.
Um lugar que possui uma
beleza do qual eu nunca fui privilegiado a observar antes. Um lugar onde tudo é
tão singelo e tão... efêmero, que passa a ter uma beleza extraordinária, aos
meus olhos.
Tantas
coisas dos quais eu gostaria de poder vivenciar, tal como os seres tão simples
e de intelecto tão limitado; que sobrevivem deste lugar. E apesar de tudo isso,
eles são os verdadeiros sortudos na história, vivendo alheios ao que está sua
volta.
Alheios
ao que “vem antes” e ao que vem “depois”. Eles mal conhecem e entendem as
coisas como elas realmente são, preocupam-se apenas com que acham que deve
receber tamanha atenção. Contas, dinheiro, suas crias. Eles crescem sendo
induzidos a se importar apenas com o que seus semelhantes mais antigos
impuseram sobre sua sociedade, com seus olhos voltados apenas para um único
lugar e os pés sempre no chão. Eles crescem com o único propósito biológico de
procriar, dando importância de mais para os ganhos financeiros. Eles não olham
para o além. Eles têm medo do que podem encontrar no ao redor. São singelos, e
efêmeros.
Às
vezes me pego pensando no que eles fariam ou o que aconteceria com seu
psicológico se soubessem sobre o lugar de onde eu vim.
Um
lugar onde o “nada” nunca foi tão, literalmente, assustador.
Onde
a esperança deixa de existir. A maldade não sobrevive, mas que também não
existe um bem. Não há luz e nem escuridão. Onde o tempo não existe.
O
lugar do qual me refiro vai contra tudo o que os humanos acreditam. Eles de
nada sabem. De nada entendem.
Nunca
houve o tal paraíso e muito menos um inferno. Apenas um vasto espaço ao qual
nada se parece. Nenhum som. Nenhum cheiro. Nenhuma sensação.
Lá,
somos apenas nós e nossa consciência. Buscando algo que nunca poderemos
encontrar, refletindo sobre tudo o que um dia já pudemos viver. Entendendo a
nossa própria existência.
Há
muito, vago por aquele lugar, já estava ao ponto de perder o que ainda me
restava da sanidade, até que cruzei o que Os Que Vieram Antes e Depois de Mim
tanto buscaram: a fronteira.
O
lugar que separa o Nada do Tudo. De onde tive acesso a tudo que existe e já
existiu. O que me salvou de enlouquecer e me tornar uma sombra, fazendo parte
daquele lugar repugnante, manchado de loucura.
Eu
estive em todo lugar. Eu estou em todo lugar. Observando tudo o que vem e o que
vai. Tudo o que deixou de existir e ainda existirá.
Vaguei
tanto pelo Nada, que minhas noções de tempo, espaço e existência já não são
mais a mesma. Tão manchado e perdido que não sei mais o que eu fui. Um humano, um animal, um ser místico. Eu posso ter
existido em todo lugar. Posso ter vindo de toda e qualquer realidade e
dimensão. Eu posso ter sido tudo o que existe e deixou de existir assim como
também posso ser tudo o que foi, é e será.
Não
há um ser supremo e também não sou um ser supremo, pois nada crio ou
transformo. Tudo que faço é observar.
Eu vi
tudo o que todo ser humano fez e é. Eu conheço todas as suas mais infinitas
versões nas mais infinitas realidades e dimensões.
Se há
uma coisa que posso afirmar é que não existe um real sentido em tudo isso. Não
há uma razão, um ser supremo e nem mesmo uma unidade de tempo de verdade.
E
mesmo que no Tudo hajam formas de vidas e existências diferentes, no final o
Tudo, ainda assim, é como o Nada.
E
todos nós nos perderemos no vazio e em todo lugar.
Isso
se eu não for toda forma de vida.
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