terça-feira, 19 de maio de 2015

A Entidade






"Eu pensei, que poderíamos ficar juntos. Que poderíamos fazer tudo aquilo que planejamos. Pensei que seríamos felizes juntos, que nada nos separaria.

Mas eu estava errada.


Nada flui da maneira que queremos. Nada acontece da forma que planejamos. O mundo não gira em torno de nós. Seja eu, seja você, sejam eles. Não gira em torno de ninguém.


Gostaria de passar mais tempo junto de você. Mas não posso. Não sei bem como explicar, agora cada um de nós faz parte de um mundo diferente. Não sei onde posso encontrá-lo. Não sei se posso continuar com isso. Afinal, sem você nada faz sentido.


Já fazem exatos 2 meses desde que tudo aquilo aconteceu. Eu não sei bem o que foi aquilo, não sei. Eu simplesmente, não sei.


Como pude deixar acontecer? Como pude ser fraca e não lhe proteger? Como foi que eu perdi você?


Durante todo esse tempo em que não estamos mais juntos, que não estamos mais unidos. Eu não falei sequer uma palavra, me dediquei apenas à escrever. Escrever o que penso. Escrever o que sinto. Apenas escrevo, e só assim eu fujo da realidade cruel.

Eles não me deixam em paz. Desde tudo aquilo, eles não querem me largar. Eles me dizem coisas ruins, me dizem coisas... que não consigo entender, apenas escuto os sussurros, a cada vez que observo a escuridão. Durante a noite, não me deixam dormir direito, eles me lembram de tudo o que aconteceu. E não me deixam dormir.


Eu... eu tenho medo disso. Nunca os vejo, apenas os escuto. Os sussurros, os gritos, os pedidos de ajuda e as risadas... frias.


Não. Eu já vi, um. Na semana passada. Era noite, estava sozinha em meu quarto terminando uma pintura como sempre. Eu ia pegar outro pote de tinta já que me que me esqueci de pegar a cor azul, e quando me virei. Ele estava lá.


No canto do quarto. No ponto escuro. Em silêncio, apenas me observando.


Eu olhei nos olhos dele. É como se... possuíssem luz própria. Não tinha pupila. Não tinha íris. Eram apenas dois pontos vermelhos. Não sei bem o que senti quando o encarei. Mas não foi medo, não, foi algo como... admiração. Fascínio.


Depois, foi como se estivesse me chamando para mais perto, e eu apenas obedeci, sem saber direito o porquê. Apenas sei, que meu corpo não me obedecia, eu comecei a me aproximar, me perdendo cada vez mais naquela imensidão cor de sangue, brilhante. Eu não conseguia sentir medo. Eu simplesmente, não sentia nada.


Quando parei extremamente próxima à ele. Pude escutá-lo, estava sussurrando. Como se estivesse... me dizendo coisas ao pé do ouvido.


Ele me disse, que era meu guardião. Que iria tomar conta de mim sempre. Ele me disse que não iria me abandonar, e eu apenas concordei.


Desde então, não escuto mais as vozes da forma frequente que era antes. Posso dormir em paz, mas sempre sentindo a presença dele por perto, como se estivesse me observando.


Ontem, eu estava olhando nosso álbum de fotos. Eu chorei, muito. A cada sorriso que eu via em seu rosto. O sorriso sincero. Então comecei a me lembrar das coisas que me dizia quando eu estava triste. E meu choro se intensificou.


Ele, me perguntou o que havia de errado comigo. O que havia de errado com aquelas fotos. Então, eu lhe contei sobre você. Sobre nosso tempo juntos, e ele me disse que sabia onde você estava.

Eu me animei, claro, diante de um comentário desse. Ele me disse, que poderia me levar até você, mas que antes deixasse esta carta. Não sei bem para quê, apenas está me dizendo para escrever. Ele vai me levar. Eu estou indo, querido, me espere.

Hum? Para onde vou? Ele quer me levar à um antigo hospício, ele não se encontra mais aberto. Não internam mais ninguém, sinto medo. Mas ele me garantiu que nada me aconteceria. Ele me levará até você."




    O detetive Claus terminava de ler a nota escrita no velho computador que havia no quarto bagunçado e revirado.
Estava investigando sobre uma mulher de, aproximadamente, 35 anos, que tinha distúrbios mentais, e dizia ver e ouvir coisas, mas ele havia investigado muito sobre ela, a mulher ficou assim desde que seu irmão fora assassinado, pelo o que parecia eles tinham um caso incestuoso. O homem era um assassino e sempre imitava maldosamente os sorrisos que rasgava nos rostos de suas vítimas.
Sobre a cama rasgada, estava o álbum de fotos citado nas notas, o detetive o pegou e folheou. Haviam apenas fotos dela, sorrindo enquanto moldava sorrisos em pessoas mortas ou amarradas, em outras estava com um homem que fazia o mesmo com outras pessoas.
Alguém a levou para um hospício antigo, onde ela foi encontrada morta, segurando uma faca de cozinha no peito, um sorriso permanecia no rosto sem vida dela. Pelo menos era o que parecia ter acontecido.
Ao se virar para sair encontrou seu parceiro, detetive Kenny.
– Parece que foi suicídio. – comentou Claus.
– Pelas notas, ela foi levada para lá, talvez tenha sido induzida a fazer isso – falou Kenny. – Temos que examinar a cena do crime direito, deve haver uma terceira pessoa envolvida em toda essa história. Voltemos então para o escritório, os policias que chegaram primeiro devem ter visto algo – terminava de falar.
Ambos saíram de dentro do pequeno quarto e foram na direção na porta de saída da casa, agora, abandonada.
Claus parou por um instante ao achar ter escutado algo, ele observou o longo corredor escuro que levava para os fundos da casa, no final dele, dois pontos vermelhos brilhantes o fascinaram, pareciam estar chamando-o para mais perto.
E ele começou a caminhar naquela direção.