quinta-feira, 11 de junho de 2015

Amigo Imaginário

    Mais uma noite fria havia chegado, e trazido com ela a dor. A dor insuportável da perda. Ele se encontrava desamparado perante aquela cena, completamente desnorteado, seu coração falhara uma batida, seus olhos marejados, deixando sua vista embaçada, porém, aquilo ainda não o impedia de vê-lo quase perfeitamente.
    Aconteceu outra vez. Não bastava ter matado suas família inteira, ele havia voltado, todo esse tempo depois, apenas para matar a garota a qual seu amor pertencia. Era como uma maldição, não podia amar, ter amigos, se quer um animal de estimação. Parecia estar condenado a viver sozinho, era horrível, já até havia tentado se matar para que esse sofrimento terminasse logo, mas ele sempre o impedia.
    O que havia feito de errado para merecer isso? Que droga havia de errado com ele? Jack vivia pedindo aos céus por ajuda mas... parece que até Deus o tinha abandonado.
    A garota continuava no chão, ensanguentada, sua cabeça virada para ele, os olhos abertos, completamente opacos, sem vida alguma, o encarando, com aquela expressão de dor e medo que permanecia em seu rosto. Aquilo o deixava atormentado.
    – Você sabe o porque, Jack – ouviu a criatura dizer, não podia ver seu rosto – Sabe muito bem.
    – O que você quer de mim? – perguntava gritando com o demônio ao lado do corpo da garota.
    – Você sabe porque estou aqui. Sabe quem sou. – dizia com aquela voz monótona e sem sentimentos.
    – Não sei o que quer! Pare de me atormentar! – ele gritava com as mãos na cabeça. Não sabia o que estava acontecendo mais, não sabia o porque de tudo isso acontecer logo com ele.
    Jack se levantou.
    Desta vez ele faria diferente, não iria fugir. Desta vez ele iria lutar, impedir que aquela coisa fizesse o que fez a ele novamente, terminar logo com essa agonia, não deixar que ele matasse mais alguém que amasse. Eles estavam numa floresta fria, pegou a maior pedra que encontrou e correu na direção do demônio, que apenas sumiu no último momento.
E como se tudo passasse a ser em câmera lenta, Jack virou a cabeça e o viu parado atrás de si e antes que pudesse fazer qualquer coisa, o ser o perfurou usando as garras enquanto murmurava "Sinto muito". Ele tossiu com uma pequena quantidade de sangue e arregalou levemente os olhos, logo sentiu o corpo pesar e suas pernas fraquejarem, caiu de joelhos ao lado da garota morta, sentindo a pele fria de sua mão em seu braço.
    Com dificuldade encarou novamente o ser, e o viu lá, parado, o encarando impassível e, finalmente, pode ver seu rosto com clareza. Como um flash, aquilo veio a sua mente.
       "– Você promete que vai ficar sempre comigo? – perguntava Simon, seu amigo imaginário inseparável.
       – Claro – falava Jack animado – Não vou te esquecer nem te abandonar!"
    É parece que esse foi seu erro. Quando cresceu passou a ignorá-lo, já achava isso infantil de mais para si, o trocou pela companhia dos novos amigos da escola e a primeira namorada, Ashley, que ainda estaria com ele, se não tivesse sido morta tão brutalmente. Agora o olhando com terror e raiva via suas garras enormes e afiadas, os chifres enormes, os olhos vermelhos brilhantes, as cicatrizes... era assustador encarar diretamente aquelas orbitas medonhas.
    – Simon? – murmurou tossindo um grande quantidade de sangue.
    – Vejo que se lembrou "amigo". – o escutou dizer um tanto sarcástico – Será que ainda devo lhe chamar assim?
    – Por que... por que está fazendo isso?
    – Você me esqueceu e me largou... quebrou sua promessa, decidi então matar todos aqueles que você amava e depois matá-lo com minhas próprias mãos – ele dizia enquanto erguia as garras – Está é minha vingança.
    Jack não conseguia dizer mais nada. O ar foi logo foi faltando em seus pulmões, sua visão foi ficando turva e escurecendo, as pálpebras pesando, e então...
    Tudo ficou escuro.